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Carniça - Móises Liporage

sábado, 26 de março de 2011


Autor: Moisés Liporage
Editora: Escrita Fina

Um esconderijo ultrasseguro, um jovem paranóico, uma linda grávida, um bando de violentos criminosos e a morte sempre à espreita neste thriller pop e soturno.

Gilberto dos anjos é um jovem que sofre de tanatofobia (medo da morte). Após vários acontecimentos, como ver uma empregada cair de um prédio enquanto limpava uma vidraça e um acidente do qual escapou por pouco, Gil ficou paranóico e começou a se sentir perseguido pela morte.
Diante desse medo irracional, ele construi um bunker-sarcófago, uma espécie de fortaleza ultrasegura e equipada com tudo que ele necessitava pra passar um bom tempo isolado. E toda vez que ele sentia (ou imaginava) que a morte estava próxima, se refugiava no bunker até as coisas se acalmarem.
Certo dia, enquanto se dirigia para mais um período de hibernação no esconderijo, Gil deu carona para Estela, uma misteriosa grávida que pede que ele a leve até a cidade mais próxima. O que Dos Anjos não imaginava é que essa simples carona iria virar sua vida de ponta de cabeça e fazer com que ele enfrente o seu pior medo.

Dos Anjos é um personagem bastante singular: tem um medo irracional da morte e esse medo faz com que ele queira entende-la melhor. Em sua rotina encontram-se atividades como frequentar velórios e enterros de desconhecidos, fazer inúmeras baterias de exames, visitar frequentemente o IML, além de estar cercado de livros e fotografias de pessoas mortas.
O livro me surpreendeu bastante e de forma bem positiva. Todo o medo de Gil é descrito com bastante humor. Aliás o livro inteiro tem um humor bastante sarcástico. Eu ri muito em vários trechos.
Os personagens são bem construídos e a história toda é bem dinâmica, não é parado em nenhum momento e a linguagem é bem simples. O livro é narrado em terceira pessoa e mistura ação, suspense e humor, tudo muito bem dosado.
A temática é diferente. O livro trata da morte, mas de forma inovadora, ela é muito mais um medo do que um perigo real.
Eu só achei que os bandidos foram meio burros em algumas partes. Para um grupo perigoso, algumas atitudes foram ingênuas.
Além das teorias mirabolantes acerca da morte, o livro trás também algumas curiosidades sobre vários assuntos, já que como Dos Anjos não tinha nenhum time de futebol, aproveitava pra se informar sobre outras coisas.
É um livro que prende a atenção do leitor, mas não de uma forma apreensiva.
Um livro ótimo e recomendadissimo.

"O fim é sempre traiçoeiro. Não chega de uma hora pra outra. Podem pensar o que quiserem, mas todo mundo veio a vida a passeio. É que a passagem de volta fica esquecida no bolso até o momento do embarque." pág. 62

"Gil vasculhou os bolsos até encontrar um molho de chaves. Segurou o chaveiro e pressionou uma série de botões, provocando uma pequena sinfonia eletrônica digna de clímax de musical sobre invasão alienígena. Ao fim da função, o portão se deslocou, abrindo caminho para eles.
- O que é que você guarda aí dentro?
- A pergunta é: o que eu quero que fique do lado de fora." pág 103

" Na madrugada, a vitrola rolando um blues, trocando de biquini sem parar...
Aquilo doeu no ouvido de Jonatan a tal ponto, que ele aplicou um pescoção de mão aberta no outro a sua frente.
- A música diz 'na madrugada, a vitrola rolando um blues, tocando B.B. King sem parar...' É o rei do blues! B.B. King!
- Eu tinha entendido outra coisa, droga!
- Mas qual é o sentido em juntar blues e troca de biquini num mesmo verso? Me diz!
E quem em juízo perfeito, ia trocar de biquini sem parar? ..." pág 99, 100 

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